Friday, March 30, 2007

A cura



A cura

Gritar não adianta; a dor é minha.
Nem quando estou sozinho; a dor é tanta.
Calar inda é pior; a dor definha,
Fica contida, presa na garganta.

Chorar nada resolve; a dor caminha.
Fugir é se entregar; a dor levanta.
Mas surge um canto, espanta a dor que eu tinha
E, prá não sucumbir, meu corpo canta.

Na poesia que, sem garganta, fala;
Que, sem poder, as lágrimas enxuga;
Que tranqüiliza, um pouco, o coração.

Posso estar louco, até... sei que, ao cantá-la,
Calado, choro e grito a minha fuga.
Só assim, sobrevivo à solidão.

Bernardo Trancoso


-....sentida.